Quais os Efeitos Gravitacionais dos Buracos Negros?

02/12/2011 17:37

 

  


2. Efeitos Gravitacionais dos Buracos Negros


 

2.1 - Velocidade de Escape

Para que um corpo de massa m1 escape do campo gravitacional de um corpo de massa m2, estando a uma distância R do centro deste corpo, a sua energia cinética deve atingir ou superar sua energia potencial:




  
 Eq.  1

 

    

onde ve é a velocidade de escape e G é a constante gravitacional. Veja abaixo o valor da velocidade de escape para alguns corpos conhecidos:

  • Para a superfície da Terra ve = 11,2 km/s

  • Para a Lua ve = 2,4 km/s

  • Para o Sol ve = 618 km/s

  • Para uma estrela de nêutrons ve = 0,5c onde c = 300.000 km/s (a velocidade da luz).


 

2.2 - O Raio de Schwarzschild

Partindo da equação 1, que define a velocidade de escape, podemos impor a condição para que nem a luz escape de um corpo de massam2. Isolando o raio R, e substituindo ve por c, obtemos uma distância ao corpo de massa m2 para a qual nem a luz consegue escapar. Essa distância é denominada Raio de Schwarzschild:




   Eq. 2

  

Obs.: Embora  a derivação do raio de Schwarzschild pela mecânica newtoniana dê o valor correto, uma derivação rigorosa deve ser feita utilizando a teoria da Relatividade Geral.


 

2.3 - O Horizonte de Eventos

O raio de Schwarzschild caracteriza uma região limite, que é o horizonte de eventos, a partir da qual nada consegue escapar, por isto sem comunicação com o meio externo. Todo corpo que for comprimido a um raio menor do que o do seu horizonte de eventos (RSch) vai colapsar a um ponto no qual a densidade é infinita (singularidade). Esta é possivelmente a melhor definição de um Buraco Negro.

Como o raio de Schwarzschild depende apenas da massa, sendo proporcional à ela; é fácil calcular seu valor para corpos de massa conhecida:

 

Se para um corpo com a massa do Sol (MʘRSch= 3 km, então para um corpo com 2 vezes a massa do Sol Mʘ RSch= 6 km. Para a Terra, RSch= 8.9 mm e para o buraco negro supermassivo no centro da galáxia RSch fica entre 10 e 15 milhões de km.

Esta simulação ilustra o que acontece ao horizonte de eventos quando ocorre uma colisão entre dois buracos negros iguais. (159 k).

O desparecimento de matéria através do horizonte de eventos foi observado com o telescópio espacial Hubble na observação de um sistema binário de estrelas, chamado Cygnus X-1. Neste sistema, uma estrela de 30Mʘ está tendo sua atmosfera capturada por um buraco negro. Conclui-se isto a partir da observação do enfraquecimento na emissão ultravioleta do gás, sugerindo que o mesmo está sendo engolido pelo Buraco Negro (seção 6.2).


 

2.4 - O Raio de Maré

 

 

Fig. 2.1 - Demonstração da deformação sofrida por uma estrela que excede o limite de Roche.

 

 

O raio de maré, também chamado raio de Roche, é a distância limite para um corpo se aproximar do buraco negro sem ser destruído. Isto ocorre porque a força de maré supera a força gravitacional interna do corpo que se aproxima. Se levarmos em consideração a igualdade entre a força gravitacional e a força de maré encontramos este raio limite de aproximação do corpo em relação ao buraco negro dado por:

 



Eq. 3

 

    
Onde RM é o raio de maré, ρE é a densidade do corpo que se aproxima, RSch é o raio de Scharzschild e ρM é a densidade do Buraco Negro, dado pela razão da massa do Buraco Negro pelo volume do mesmo, obtido considerando o vloume do Buraco Negro como sendo o de uma esfera de raio RSch

A figura ao lado mostra o que acontece com uma estrela que se aproxima de um Buraco Negro, chegando a uma distância menor do que o raio de maré (limite de Roche): seu volume esférico se modifica para o de um charuto, depois de uma panqueca, voltando ao de um charuto maior.

 





 

 

 


 

2.5 - Distorção do Espaço

Nas proximidades de um campo gravitacional forte, o espaço-tempo sofre uma deformação que provoca um aumento da distância radial à massa central, à medida que nos aproximamos da mesma. Para campos gravitacionais fracos esta distorção é desprezível. O efeito fica mais evidente nas proximidades de objetos com campo gravitacional forte, como é o caso de estrelas compactas (anãs brancas, estrelas de nêutrons), buracos negros ou galáxias massivas. A distorção acontece ao longo da direção radial, de forma que podemos determinar o comprimento de uma circunferência ao redor do buraco negro e calcular a área da esfera à qual ela pertence mas não podemos determinar com o mesmo tipo de geometria (Euclidiana), o raio da circunferência.


Por exemplo: Você está a bordo de um foguete orbitando (circulando) um buraco negro com RSch=3 km; você mede a circunferência da órbita e então calcula (usando a geometria euclidiana) a distância (o raio da circunferência) até o buraco negro como sendo 30 km. Então você anda 21,92 km em direção ao buraco negro e mede o raio da órbita. Você determina, dessa forma, que sua distância ao buraco negro é de 10 km e não 8,08 km (30 - 21,92) como a geometria Euclidiana prevê. Agora você se move em direção ao buraco negro 28,52 km a partir da posição original. Pode parecer que você ultrapassará o horizonte de eventos (que tem RSch=3 km) mas isso não acontece. Então você determina o raio novamente e verifica que você ainda está a 5 km do buraco negro e não 1,68 km (30 - 28,52) como a geometria Euclidiana prevê. Conclui-se claramente que o forte campo gravitacional distorceu o espaço.

A figura abaixo ilustra a distorção do espaço. O fenômeno ilustrado é chamado de lente gravitacional,  pois como uma lente óptica ,  esta lente gravitacional provoca uma deflexão no raio de luz que passa por ela. 
 


Fig. 2.2 - Uma fonte emissora S que esteja localizada na direção de um corpo supermassivo porém mais distante do que ele, terá sua radiação desviada de um ângulo θ e parecerá estar posicionada em S' para um observador que se encontra ao lado esquerdo da figura.